Mary Ward
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Mary Ward
MARY WARD nasceu a 23 de janeiro de 1585, em York, na Inglaterra, e faleceu a 30 de janeiro de 1645, em Hewarth. Filha de Marmaduke Ward e Ursula Wright, nobres descendentes ingleses que desde a origem distinguiram-se pela fidelidade à religião católica. Mary veio ao mundo numa época dificílima para a Inglaterra em virtude das lutas sangrentas desencadeadas pela perseguição religiosa no reinado de Isabel I. Apesar disso, foi a época que marcou o país pelo grande desenvolvimento econômico e político, pelo poderio e pela expansão marítima, pelas conquistas.
Mary recebeu uma educação orientada para a abertura, e isso contribuiu, no futuro, para a formação de um novo estilo de vida religiosa na Igreja. Na Inglaterra, diferentemente dos outros países europeus, a mulher já era dona de uma maior liberdade intelectual e cultural, com responsabilidade de reflexão e de tomar decisões , enquanto nos outros países estava ainda tolhida sob os influxos da Idade Média, no isolamento social e intelectual.
Mary cultivou e aumentou, à medida que cresceu, seus conhecimentos através do estudo contínuo. Aos 20 anos, dominava fluentemente o latim, o francês e o inglês, tinha conhecimentos de música, de arte, de bordado, de costura, de um pouco de enfermagem e de tudo aquilo que sabia ser útil e necessário para a época. Acima de tudo, rezava bastante e tinha uma fé muito sólida.
Desde pequena, apresentou uma saúde muito frágil e por várias vezes teve que se ausentar da família e refugiar-se na casa dos parentes e amigos, pois o clima frio do norte de York não lhe era propício. Dos cinco aos dez anos passou muito tempo com a avó materna, em Plouglard, no sul. Mais tarde, entre os dez e quinze anos, esteve na companhia de parentes, os Babthorpe, com quem ela pôde extravasar livremente todo o anseio que sua alma movia para Deus. Ali, ela se preparou e recebeu a primeira Eucaristia. Também sentiu o primeiro impulso, o primeiro desejo de servir a Deus na vida religiosa.
Foi um ideal difícil de ser concretizado na época. Na Inglaterra, os conventos tinham sido todos fechados pelas leis e decretos anglicanos, os membros foram dispersados. Ela nunca tivera contato com nenhuma religiosa ou Ordem, nem se podia falar sobre tal assunto. Houve grave proibição por parte do confessor e da família que queria vê-la casada com um alto membro do Parlamento Inglês, pois traria vantagens e benefícios sociais e eclesiásticos pela influência que exercia na corte. Mary recusou terminantemente tal projeto e, pacientemente, refugiou-se na oração e esperou. Só o tempo decide as coisas de Deus.
Aos 20 anos, deixou a Inglaterra e foi para Saint Omer (hoje, Bélgica ) decidida a trabalhar lá para o Reino de Deus, levando uma vida reclusa e de oração. Lá, foi encaminhada para o Convento das Clarissas Pobres. Ficou decidido pela superiora do convento que ela ocuparia o lugar de uma Irmã conversa que deixara a Vida Religiosa, lugar vago cujo trabalho era o de angariar o sustento para as Irmãs do coro. Durante um ano, ela esmolou de porta em porta, levando uma vida de provações duríssimas. Percebeu não ser esse o ideal que tinha em mente e, depois de muita luta e oração, deixou esse convento. Com tal acontecimento, ela descobriu, pela experiência, uma hierarquia de valores que passou a ser norma de conduta. Ela se orientou, dali em diante, sempre mais para o eterno, para o que não é perecível. As provações que passou levaram-na a perceber que suas energias espirituais e psíquicas convergiam para um único fim: fazer a vontade de Deus. E essa vontade agora lhe pedia algo mais.
Pensou que fosse suficiente fundar um convento para as jovens inglesas refugiadas no Continente. Fundou o convento e entrou como noviça, mas, após algum tempo de permanência ali, enquanto rezava, recebeu uma iluminação interior: devia deixar também aquele lugar, no qual ela se sentia tão segura e o qual amava tanto. Deus exigia dela um outro trabalho apostólico. Não sabia de que se tratava, mas, por intuição, soube que isto daria maior glória a Deus. Mary passou da plenitude de felicidade em que se encontrava no convento à incerteza, esse período foi dificílimo. Não foi fácil procurar, escolher e optar pelo o que o Senhor pedia. Obedecendo ao impulso interior, deixou o convento e então começou sua verdadeira missão.
Voltou à Inglaterra e lá se dedicou ao trabalho de auxiliar a todos quantos dela se acercaram, reconduzindo-os para o bom caminho. Foi um trabalho penoso se pensarmos na grande miséria moral que a Europa passava naquele momento conturbado da história. Sempre apoiada na oração, Mary pressentiu que Deus exigia dela uma obra com as características da Companhia de Jesus (Ordem dos padres Jesuítas), fundada por Santo Inácio de Loyola: sem clausura e voltada para as obras apostólicas, fugindo ao padrão da Vida Religiosa da época.
Ainda lá escolheu as sete primeiras companheiras de trabalho com as quais regressou a Saint Omer, em 1609, e deram início às primeiras escolas, o início do Instituto. Abertas e sensíveis aos novos ideais, esse grupo de jovens procurava unicamente ajudar a Igreja nas situações difíceis em que se encontrava.
A personalidade da fundadora, considerando-se a educação e a origem, apresentava muitos elementos que a levaram a idealizar o novo tipo de mulher religiosa. Tinha um carinho todo especial para com os pobres, sabia defender-se de qualquer situação sem embaraço e sem temores, mantinha-se livre de todo fanatismo e, com atitude distinta, gozava da amizade e admiração de pessoas notáveis, até entre os que professavam outras crenças religiosas. Todos esses elementos conseguiram levar avante sua obra, apesar de todo tipo de dificuldade que se lhe apresentara. As palavras não podem expressar tudo o que se passou naquele tempo, mas deixam entrever o que a obra exigia delas: segurança, dedicação desinteressada, trabalho e lutas sem fronteiras. Ela e as companheiras passaram por duras provas. Os jesuítas, naquela época, não viam com bons olhos o trabalho delas na Igreja nem queriam um ramo de Religiosas ligado à Companhia. O clero também não aceitava a ideia de “mulheres” ministrando o Ensino Religioso, pois a Evangelização era destinada aos homens, eles eram os responsáveis por essa missão na Igreja. A mulher deveria ficar confinada à clausura e rezar, pois para algo maior ela era considerada incapaz. Mas Mary Ward era radical, ou tudo ou nada, e ficou firme nessa resolução porque sabia que essa era a missão que o Senhor lhe confiava. Essa atitude, no desenrolar da história do Instituto, foi séria, visto que Mary Ward era mais prática que teórica. Queria simplesmente fazer aquilo que achava estar ao alcance da mulher; se ela tivesse preparação, poderia, sem embargo, atuar no campo apostólico.
Sem pensar em Direito Canônico, assumiu as Constituições de Santo Inácio. Queria um Instituto no qual a iniciativa pessoal dos membros fosse de acordo com o modo de pensar dos superiores; que tivessem uma sólida união, formação moderna e uma fé profunda, trabalho incansável e íntima vida de oração e relação com Deus e com o próximo.
Pelo fato de fundar uma Congregação feminina orientada para o apostolado segundo a Companhia de Jesus, empenhada na missão direta no mundo feminino e de maneira apta a formar mulheres católicas de profunda vida de fé, sua Obra trouxe metas à vida religiosa na Igreja e para a mulher em geral.
Em pouco espaço de tempo, seu Instituto prosperou. Casas foram abertas em vários países europeus e os membros aumentaram a olhos vistos. Porém, o inimigo do bem está em toda parte e começou a soprar fortes acusações contra ela, vindas do meio do clero inglês e mesmo dos jesuítas.
Com grande coragem e constância, Mary Ward empreendeu viagem em plena Guerra dos Trinta Anos, que assolava a Europa. Atravessou os Alpes no rigor do inverno para defender o Instituto diante do Papa e dos Cardeais, das falsas acusações de que era vítima. Sua característica principal foi sempre a lealdade e a verdade. Nunca usou de nenhuma fraude, nem mesmo quando percebeu estar sendo uma vítima dela. Isso exigiu sempre dos membros do Instituto também. Mesmo assim, ela não conseguiu quebrar as barreiras do Direito em vigor e superar os preconceitos tão radicais da época.
Lutou muito para conseguir a aprovação do Instituto junto à Sé, mas o muito que conseguiu foram algumas licenças periódicas para a sua continuação do mesmo. “Fracassou”, porque os tempos não estavam maduros para acolher seu ideal.
Com a Carta “Pastoralis Romani Pontificis”, de 13/01/1631, Urbano VIII suprimiu o Instituto, as casas foram fechadas e os membros dispersos e proibidos de dar continuidade à Obra na sua estrutura original. A Igreja foi tão severa que chegou a encarcerar Mary Ward e submetê-la a juízo da Inquisição, porém quase sem investigação prévia.
A Inquisição libertou-a de culpa, e posta em liberdade, dirigiu-se outra vez a Roma para apelar ao Papa pelo Instituto. Foi-lhe dada a licença de abrir casas em Roma e aí viver com as companheiras. Desses pequenos grupos surgiu o Instituto Beatíssima Virgem Maria, hoje Congregação de Jesus, que se esforçou através dos tempos para manter vivo o ideal desta grande pioneira.
Mary Ward, já alquebrada e enfraquecida, retornou à Pátria e, em 1645, morreu na vilazinha de Hewarth, nos arredores de York. Seu corpo foi sepultado na Igreja de Osbadwick, dos protestantes. Sobre seu túmulo foi colocada uma lápide com os dizeres:
“AMAR OS POBRES, PERSEVERAR NESSE AMOR,
PARA VIVER, MORRER E RESSURGIR COM ELES.
PARA ESSE FIM FOI DIRIGIDO TODO O ESFORÇO DE MARY WARD
QUE, TENDO 60 ANOS E 8 DIAS, EXPIROU AOS 30 DE JANEIRO DE 1645”.
Seu sacrifício, coragem e audácia permanecem como exemplo vivo no Instituto até os dias de hoje. Vivo e atuante, o Instituto, espalhado por todos os Continentes, procura realizar o ideal da grande inglesa. Hoje, com toda a abertura do Concílio Vaticano II, muitos daqueles princípios, os quais ela não pôde concretizar enquanto viveu, estão sendo vivenciados pelos membros atuais sem nenhum impedimento. Suas diretrizes foram conservadas apesar de todos os impedimentos, confusões e mudanças históricas e chegaram até nós pelo exemplo das primeiras companheiras da fundadora. As fontes de que dispomos para o estudo da sua vida, as biografias, as cartas e os escritos, a “Vida em Pinturas”, nos fornecem uma ideia da fidelidade dessas primeiras colaboradoras que seguiram fiéis e adotaram tudo aquilo que ela quis no início.
Atualmente os tempos são outros, mas não nos excluem da necessidade de procurar o que Mary faria se vivesse hoje, como ela interpretaria os acontecimentos históricos, como organizaria sua vida e quais as respostas que daria aos apelos atuais da Igreja e da Sociedade.
À nossa frente está uma mulher sem ilusões, uma mulher que procurou aquilo que se lhe apresentou como essencial, con
servou a serenidade e perseverou em sua missão. Assumiu a responsabilidade que lhe foi confiada sem nenhumatentativa de evasão. Fez todo o possível para que suas companheiras compreendessem sua missão e preocupou-se com aqueles que seriam atingidos por tal missão. Soube conservar a calma em todos os momentos difíceis, porque sempre se manteve próxima da força vital, a união com o Senhor. Desse contato florescia cada dia nova esperança sem a qual nenhum ser é capaz de viver. E nessa esperança, tornou-se livre para perceber os sinais da vontade de Deus. Sabia que Ele faria concorrer tudo para o bem daquele que crê, e que tudo acontece como Ele julga melhor.